Presidente da UNAFA e SINFA, Saraiva Jr., fala em defesa dos trabalhadores e da sociedade durante audiência no Senado Federal |
A questão foi discutida nesta quinta-feira (17) em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), por sugestão do senador Dário Berger (PMDB-SC). Ele é o relator da avaliação da política de Defesa Agropecuária e o debate subsidiará a elaboração de relatório que apresentará à CRA até o fim do ano.
Convidado para o debate, o secretário substituto de Defesa Agropecuária do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Luis Rangel, defendeu a construção de um novo modelo, focado na regionalização dos serviços e na divisão de responsabilidades.
— Precisamos dar responsabilidade a quem produz. O setor público deve, na sua medida, garantir esse processo de segurança ao longo da cadeia e, ao final do processo, certificar, fazendo com que nossos produtos agropecuários ganhem o mundo — disse Rangel.
Ele defendeu fiscalização por amostragem, com base em conceitos estatísticos e no rigor científico. A ideia foi compartilhada pelo senador Waldemir Moka (PMDB-MS), que opinou sobre inspeção de abatedouros.
— É preciso ter fiscal, mas o fiscal não precisa estar o tempo todo em cada estabelecimento. É preciso ter um grupo ágil de fiscais fazendo auditoria permanentemente. Acho improdutivo deixar um servidor lá, quando o interesse é de quem produz, para ter um produto de boa qualidade. Agora, se quem produz for pego fazendo alguma coisa errada, você entra com a auditoria — opinou Moka.
Também a consultora da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Tânia Lyra considera possível combinar inspeções privadas com a fiscalização dos órgãos públicos, desde que haja rigor na punição aos que descumprirem as regras.
— A indústria pode fazer inspeção, mas tem que ter uma legislação muito clara, para que, havendo problema, tenha uma punição muito severa, no caso de uma auditoria federal — opinou.
Terceirização
Conforme Rangel, o setor passa por um envelhecimento do quadro de servidores concursados, devendo ocorrer aumento de aposentadorias nos próximos anos. Hoje, informou, são cerca de 2.800 fiscais federais e 5.700 fiscais estaduais, apoiados por cerca de 50 mil profissionais privados capacitados, aptos a operar no sistema de defesa agropecuária.
No entanto, o presidente da União Nacional dos Fiscais Agropecuários (Unafa), Francisco Saraiva, apontou conflito de interesses na atuação de profissionais sem concurso público para atividades de fiscalização.
Ele afirma que a legislação em vigor define como atribuição do Estado a fiscalização agropecuária, de forma a zelar pela saúde pública.
— Será que terceirizando as atividades na inspeção, onde se exige fiscalização permanente com profissionais concursados, vai resolver, frente a todas as deficiências de estrutura e de recursos? Não será tapar o sol com a peneira e abrir margem para um cenário nebuloso, que pode levar a problemas sérios no país? — questionou.
Mesa representativa |
— Os municípios não tem mais dinheiro para contratar veterinários para colocar nas agroindústrias, que têm como crescer cada vez mais. A União não contrata, o estado não contrata e repassa tudo para o município, que não tem condições de contratar. Não podemos criar despesa sem termos a receita — afirmou Ribas.
O represamento de demandas do setor produtivo, pela falta de fiscais agropecuários, também foi apontado pelos senadores Acir Gurgacz (PDT-RO) e Donizeti Nogueira (PT-TO), que relataram dificuldades em seus estados.
Parcerias
Para Inácio Kroetz, representante do Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária, é preciso ampliar a visão de parceria entre todos os entes da federação.
— Somos todos do mesmo país, o mesmo produto produzido na Rondônia pode ser consumido no Rio Grande do Sul e vice-versa, com a mesma segurança. E somos agentes de saúde pública também — frisou.
Já o setor produtivo apontou problema na estrutura para realização de exames exigidos na legislação. Conforme Ariel Mendes, da Associação Brasileira de Proteína Animal, que reúne agroindústrias de aves e suínos, laboratórios credenciados realizam apenas um quarto dos cerca de 40 mil testes demandados mensalmente pelo segmento.
O problema, como confirmou Luis Rangel, também ocorre em outros segmentos, como o de exportação de frutas, por exemplo.
— Na exportação de banana, que não tem processo de certificação, o cara não consegue exportar do Norte porque o laboratório fica no Sul. Entra aí a questão da regionalização — opinou.
Ao final do debate, Dário Berger disse considerar a defesa agropecuária vital para o agronegócio e para a economia do país, essencial para a segurança alimentar dos consumidores e sustentabilidade da atividade rural.
— Eu sonho com o dia em que a gente não precise de fiscalização na porta do estabelecimento, pois é uma obrigação do produtor, que deve ter grau elevado de consciência, senão ele não vai manter vivo seu negócio e pode incorrer em penalidades gravíssimas, relacionadas à saúde das pessoas — observou.
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