Professora faz homenagem emocionada ao Professor Luiz Pazzini

Para lembrar de Luiz Pazzini

Por: Célida Braga 
Professora/ pesquisadora
Aluna do Curso de Licenciatura em Educação Artística da UFMA; 
Aluna de Pazzini; 
Monitora, amiga e admiradora.

Luiz Pazzini era uma daquelas pessoas do teatro que vivia além do seu tempo. Revolucionou a cena maranhense ao mostrar ao seu público uma versão da Missão (Der Auftrag ), texto teatral de Heiner Muller (1929-1995) em um período em que poucas pessoas do teatro brasileiro sabiam quem era esse dramaturgo alemão, isto já acontecia no Maranhão, nos primórdios do século XXI.

Na universidade Federal do Maranhão foi pioneiro em várias ações da pedagogia do teatro. A prova disso foi o projeto «O Extensionista», título do texto teatral do mexicano Felipe Santander, onde foi coordenador, encenador e produtor, compartilhando essas tarefas com suas alunas e alunos. 

Ousadíssimo a tal ponto que trouxe para o contexto do curso de artes cênicas da UFMA dos anos 90 do século XX, uma visão de ensino e aprendizagem teatral, em que o elemento novo era a extensão universitária até então, não vivenciada na Licenciatura em Educação Artística. A indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão tornou-se tecido da experiência prática-teórica com a peça teatral de Felipe Santander, ainda com o teatro didático de Bertolt Brecht, com o teatro do oprimido de Augusto Boal e com a pedagogia do Oprimido de Paulo Freire.
O Extensionista foi um projeto ousado para os anos noventa porque propunha ser interdisciplinar, envolvendo disciplinas da área de teatro e envolvendo professores de outras áreas e segmentos da comunidade. Sendo assim, foi um dos grandes contribuintes para ampliar o espaço de debates sobre a relação da pesquisa científica entre a UFMA e a comunidade ludovicense evidenciando conceitos de democratização da ciência e da arte ao levar teatro para a periferia de São Luís.

Dessa maneira, Pazzini demonstrou interesses por conhecimentos produzidos na  universidade que criasse possibilidades de pontes  entre conhecimentos científicos e a sabedoria popular. E assim, foi protagonista da participação dos movimentos populares dentro da universidade, nas discussões com o mundo da ciência. À exemplo do Movimento dos Sem Terra, que pela primeira vez estava ali, em uma mesa de debates sobre a necessária reforma agrária no Maranhão e no Brasil.  Discussões que permanecem atuais ainda hoje.

O Projeto Negro Cosme em movimento é outro exemplo, em que suas encenações teatrais rompiam com o espaço tradicional. Muitas vezes, os espaços usados foram: igreja, pátio aberto de escolas, praças, associação de moradores, etc. Propunha uma cena aberta que envolvesse o/a espectador/a. E sua plateia preferida era composta de trabalhadores rurais, sindicalistas, professores e estudantes de escolas secundárias e professores e estudantes universitários, que também tivessem abertos para se envolverem na cena pela compreensão espect-ator de Augusto Boal. A experiência da recepção teatral era importante nas suas encenações, pois era consciente das provocações ao/a espectador/a para que percebesse as dimensões sociais, políticas e culturais presentes na sua própria vida por meio da cena ali exposta. 

Abusou do termo «Teatro em espaços inusitados» mexendo com a imaginação e inventividade do alunado teatral, que depois dessas experiências o curso de teatro alçou altos voos. Pazzini vai ser lembrado por muitas gerações de turmas do Curso de Teatro, pois muitos dos seus ex-alunos hoje são professores do Curso de Teatro e consequentemente foram contaminados por suas encenações.