terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Presidente Júlio Pinheiro fala sobre área Itaqui-Bacanga em seminário que debateu São Luís

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Maranhão (SINPROESEMMA) participou, na sexta-feira (12) do I Seminário Debatendo a Cidade no Contexto Contemporâneo. Pinheiro abordou a origem da área Itaqui - Bacanga, a partir da transferência de moradores do bairro Goiabal, área periférica nas imediações do Cemitério do Gavião. 


Júlio Pinheiro: "Comunidades foram muito agredidas."
O I Seminário Debatendo a Cidade no Contexto Contemporâneo, realizado pela Universidade Federal do Maranhão e Departamento de geociências/UFMA, com apoio da FAPEMA e da ONG Cultivar – Consultoria em Desenvolvimento Sustentável, reuniu, nos dias 11, 12 e 13, no Auditório Central da UFMA, pesquisadores que se dedicam a estudar São Luís dos pontos de vista social, econômico, urbanístico e arquitetônico, além de moradores, lideranças que conhecem a história da cidade, dilemas e caos urbano.

Com o objetivo é tornar a Ilha de Upaon-Açu um lugar melhor para viver, o debate das políticas públicas, violência, gargalos e outros aspectos foram discutido por vários palestrantes, como o arquiteto e urbanista Ronald Almeida, a professora do Departamento de Geografia da UFMA, Ediléa Dutra Pereira, o empresário do setor de turismo, Nan Sousa, entre outros.

O professor conta a história da região 

O presidente do SINPROESEMMA, Júlio Pinheiro, é morador da área Itaqui-Bacanga desde 1976, e faz parte da estatística dos baixadeiros do Vale do Pindaré, afastados de suas raízes pelos grandes projetos que entraram no Maranhão, empurrando comunidades tradicionais da região para a periferia da capital.

Historiador, Pinheiro contou que as primeiras ocupações na região Itaqui-Bacanga aconteceram quando José Sarney era governador do estado. Na época, um incêndio no bairro Goiabal, em 1968, deixou os moradores sem casa. Um providencial deslocamento compulsório, obrigou-os a se mudar para o outro lado ainda inexplorado da cidade São Luís, após o Rio Bacanga.

O deslocamento compulsório desses moradores da periferia do Centro de São Luís tinha a intenção de criar condições que atendiam ao projeto de desenvolvimento da capital maranhense e do estado maranhense idealizado por Sarney, nos anos 60, dentro de uma lógica de atração de grandes projetos. “Quem mais foi agredido por esses projetos foram as comunidades tradicionais. O incêndio no Goiabal provocou a erradicação da periferia na área próxima do Centro de São Luís e coincide com a construção da Barragem do Bacanga”, comentou Pinheiro, que se tornou um ativista social da área Itaqui-Bacanga, que hoje reúne mais de 250 mil moradores em mais de 58 bairros.

Pinheiro comentou que o bairro iniciou debates para que a área se tornasse independente por causa da deficiência de representação do bairro nos espaços de decisão política.

Gargalos históricos

Sobre os problemas que o eixo Itaqui-Bacanga enfrenta na atualidade, Pinheiro destacou a falta de regularização fundiária: “Quem mora lá, não tem, até hoje, o documento oficial de posse”. O presidente do Sindicato citou também problemas decorrentes da má distribuição dos impostos arrecadados, a falta de exploração do turismo, apesar de o bairro possuir belas áreas de lazer, como as praias do Amor e da Guia, o sítio Tamancão, onde está localizado o estaleiro-escola, por exemplo.

Criticou que apesar de possuir número de habitantes proporcional a uma cidade e sediar importantes projetos industriais, a região Itaqi-Bacanga não tem uma escola técnica estadual, não tem escola de tempo integral, creches públicas. Em consequência disso, questionou os benefícios desses grandes projetos para as comunidades que hoje ocupam. “Só agora o IFMA [Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão] instalou duas salas”, frisou Pinheiro.

Ele comentou também que os moradores da área não se surpreendem com os indicativos de agravamento da criminalidade em São Luís, pois convivem com altos de índices de violência desde que o bairro surgiu, a partir, inclusive, do deslocamento obrigatório dos moradores de suas comunidades de origem. O presidente do Sindicato salientou que sua “visão é de que a área Itaqui-Bacanga é São Luís, não está apartada do resto da cidade”.

Ao responder pergunta sobre o ensino da Geografia sem base na realidade do local onde a comunidade escolar está inserida, Pinheiro afirmou que “não se constrói um sistema de educação sem interação com o local”.

Ele acrescentou que o debate dos planos estaduais e municipais de educação se apresenta, em 2015, como um grande desafio para a comunidade escolar: “O Maranhão é o segundo estado a aprovar seu Plano Estadual de Educação. Agora, além e planejar a partir do diagnóstico dessa realidade, é preciso perseguir essa abordagem na escola e numa perspectiva mais geral, a partir daí”.

A coordenadora do seminário, Kátia Borgneth, explicou que a intenção do evento é apresentar contribuições ao processo de reflexão e construção do direito à cidade e que esse foi apenas o primeiro de outros seminários.

Um passeio turístico à área Itaqui-Bacanga encerrou a programação do I Seminário Debatendo a Cidade no Contexto Contemporâneo. A ideia é que os próximos seminários abordem outras comunidades da capital.

Fonte: SINPROESEMMA

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