Artigo de José Medeiros da Silva, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e Investigador convidado do Instituto Internacional de Macau, na China, destaca a importância do recém inaugurado Laboratório Sino-Brasileiro para Clima Espacial.
Por José Medeiros da Silva*, com a colaboração de Shi Ke
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A criação desse laboratório abre novos espaços para colaborações acadêmicas duradouras e para a formação de grupos de trabalho capazes de desenvolver ações que contribuam efetivamente para os interesses científicos dos dois países. Pelas instituições envolvidas, pela natureza dessa plataforma, por suas perspectivas de longo prazo e devido as potencialidades de intercâmbios criadas, o laboratório abre um novo capítulo nas relações entre Brasil e China.
O Laboratório Sino-Brasileiro para Clima Espacial será responsável também pela promoção, em todo hemisfério ocidental, do Programa Internacional do Círculo Meridiano para monitoramento do Clima Espacial (IMCP, na sigla em inglês). Equipada com avançados instrumentos de tecnologia de observação do geoespaço, a atual rede chinesa de monitoramento terrestre do clima espacial estende-se no entorno do meridiano 120°Leste e do paralelo 30°Norte. Para ampliar a capacidade de monitoramento do clima espacial a uma escala global, o NSSC vem estabelecendo acordos de cooperação com instituições de pesquisa espacial dos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Rússia, Coreia do Sul, Japão e Brasil, buscando criar uma estrutura de observação integrada internacionalmente ao longo dos meridianos 120º Leste e 60º Oeste.
Para além da razão do meridiano 60º atravessar uma enorme extensão do território brasileiro, o INPE tem uma atuação destacada na pesquisa de fenômenos do ambiente solar-terrestre que remonta aos anos 1960 e também opera, desde 2007, um Programa de Estudo e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial (EMBRACE), dotado de uma rede própria de sensores em diversos pontos da América do Sul.
O interesse por essa parceria com o Brasil se deve também a fatores como a sua localização no globo terrestre, em posição oposta à da China, o que é particularmente conveniente para o estabelecimento de um ponto nodal à atual rede de monitoramento chinesa, além da presença da porção continental da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS) sobre a região meridional brasileira.
As instituições cooperantes também iniciaram ações para assegurar a infraestrutura necessária para a instalação de instrumentos científicos da rede internacional do IMCP em São Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul, numa área cedida ao INPE dentro do campus da Universidade Federal de Santa Maria.
Com o advento dos voos orbitais tripulados e a expansão do papel dos satélites artificiais na presente sociedade tecnológica, a influência de eventos solares extremos no ambiente espacial pode ter um sério impacto sobre essas atividades, assim como sobre as vulnerabilidades de sistemas terrestres de telecomunicação e transmissão de energia. Essa parceria tende a abrir novas portas no desenvolvimento de aplicações e no avanço do conhecimento nesse campo.
Apesar de ainda tímidos, o Brasil e a China já deram importantes passos no estabelecimento de parcerias em áreas científicas estratégicas. O exemplo mais conhecido é o do CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), projeto pioneiro na cooperação entre países em desenvolvimento na área de tecnologia espacial, assinado em 1988, e que já lançou com êxito quatro satélites, sendo o mais recente em dezembro de 2014.
A proposta para criação do Laboratório Sino-Brasileiro para Clima Espacial é mais um exemplo de que determinadas iniciativas, seguidas pela soma de esforços, tendem a abrir novas perspectivas para o aperfeiçoamento das relações entre os dois países. Por exemplo, a concretização do referido laboratório, partiu inicialmente de uma proposição do NSSC visando o aprofundamento da cooperação com o INPE, motivada pelos termos expressos no memorando de entendimento assinado em 2010 pelas duas instituições. Com a assistência diligente do então chefe do setor de Ciência e Tecnologia da Embaixada do Brasil em Pequim, Marco Tulio Cabral, a proposta alcançou consenso entre os participantes da primeira reunião do grupo de trabalho para o Plano Decenal de Cooperação Espacial, sendo formalizada em novembro de 2013, por ocasião da III Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), realizada em Cantão, China, e presidida conjuntamente pelo Vice-Presidente do Brasil, Michel Temer, e pelo Vice-Primeiro-Ministro do Conselho de Estado da China, Wang Yang.
Em 2015 as subcomissões espacial e de ciência, tecnologia e inovação da COSBAN devem se reunir mais uma vez para tratar dessas e outras cooperações. Esse será um importante momento para reforçar as parcerias existentes e se avançar em novos projetos.
*José Medeiros da Silva, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, investigador convidado do Instituto Internacional de Macau e há sete anos vive na China
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