![]() |
| Cristiano Capovila |
Cristiano Capovilla* e Fábio Palácio**
Ocorrido no último dia 18 de maio, o
debate entre os candidatos a reitor e vice da UFMA mostrou algo mais do que a
simples exposição de programas de gestão. O debate revelou para a comunidade
acadêmica a profunda diferença entre os dois principais projetos postulantes
aos cargos máximos da Universidade.
A discrepância poderia ser colocada em
termos de uma concepção de universidade excessivamente ideologizada, abstrata e
idealista e outra mais prática, concreta e realista, embora não menos política.
A primeira estava representada nas candidaturas de Antonio Gonçalves e
Marise Marçalina; a segunda nas candidaturas de Nair Portela e Fernando
Carvalho. A incontestável vitória de Nair e Fernando no debate merece algumas
considerações.
Em primeiro lugar, verifica-se que o
debate ideológico como motor exclusivo da disputa eleitoral, tal qual proposto
pelo partidarismo de Gonçalves e Marçalina, está completamente fora do contexto
da universidade. A tentativa de transpor mecanicamente programas partidários
para dentro do espaço acadêmico, sem reconhecer a particularidade que lhe é
inerente, configura uma atitude artificial e mesmo autoritária, com sérios
traços de messianismo.
Em seu “Os intelectuais e a organização
da cultura”, o grande pensador marxista Antonio Gramsci, já na primeira metade
do século XX, alertava seus companheiros para o papel imprescindível daqueles a
quem denominou “intelectuais tradicionais”, aos quais caberia a continuidade
das instituições responsáveis pela ciência, pela técnica e pela erudição. Tal
argumentação antecipava, em muitos sentidos, o debate sobre a autonomia das
instituições acadêmicas e seu papel institucional diferenciado no âmbito das
sociedades contemporâneas.
![]() |
| Fábio Palácio |
Não se trata, aqui, do discurso fácil e inquisitorial
que aliena o outro afirmando a superioridade do ambiente acadêmico; não se
trata, outrossim, do “eu sei” contraposto aos“incapazes de saber”. Trata-se, ao
contrário, da especificidade da instituição acadêmica, que, por sua
característica e suas finalidades, estabelece as próprias condições de sua missão.
A autonomia universitária é uma tarefa prática da vida científica e acadêmica.
Diz respeito, portanto, à sua liberdade.Ao
desconhecer esse fato, a tentativa de fazer imperar na universidade uma espécie
dejacobinismo esquerdista– discurso
mais afeto a certos ambientes político-partidários – condena-se de antemão ao fracasso.
Em segundo lugar, averiguamos, a partir
da exposição dos programas, que o esvaziamento do discurso de AntonioGonçalves e
MariseMarçalina e asimultânea ascensão das propostas de Nair Portela e Fernando
Carvalhoremetem não a causas abstratas ou ideológicas, mas fundamentalmente a
questões político-práticas. O debate na UFMA diz respeito, antes de tudo, às
finalidades que professores, técnicos-administrativos e estudantes buscam,
assim como ao dia a dia que vivenciam dentro da atual conjuntura da
universidade.
Nair e Fernando representam aqueles que aceitaram, desde 2007, o
desafio do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais) e apostaram no maior ciclo de investimentos no ensino
superior desde o governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. Foi este o
campo que efetivamente trabalhou e transformou nossa universidade; o campo que,
inserido nos desafios de nosso tempo, enfrentou os problemas reais, e por isso
tem o que mostrar. Representantes desse campo, Nair e Fernando assumiram a
responsabilidade e suas consequências. Este é o mais valioso ativo de suas
candidaturas.
Em terceiro lugar, porém não menos
importante, temos o fato de que, ao contrário desse caminho vitorioso, as
candidaturas de Antônio Gonçalves e MariseMarçalina apostaram em 2007contra o Reuni,
isto é, contra a expansão da universidade pública e de qualidade. Hoje, resta a
essas candidaturas apenas assumirem o ônus desse ato perante toda a comunidade
universitária. Apostaram no fracasso e perderam. Agora propõem um discurso
irreal, estranho ao tempo e aos desafios concretos da UFMA, como forma de
recuperar o espaço perdido.
Ao término do debate, os presentes
perceberam que não serão os aspectos puramente ideológicos que irão decidir os
destinos da UFMA pelos próximos quatro anos. Serão, sim, os compromissos de
quem responde aos desafios do momento, integrados ao nosso tempo, tendo em
vista os objetivos da academia, e consolidando as condições que tornarão
possível o crescimento qualificado e autônomo da Universidade Federal do
Maranhão. Foi por esses motivos que Nair e Fernando venceram o debate do dia 18
e estão prontos para vencer a consulta do dia 27 de maio.
*
Mestre em Filosofia, professor do COLUN-UFMA e secretário-geral do SIND-UFMA.
**
Doutor em Ciências da Comunicação, professor adjunto do Departamento de
Comunicação Social da UFMA.


Nenhum comentário:
Postar um comentário