sexta-feira, 9 de março de 2018

Taxação do aço por EUA aprofundará drama dos trabalhadores brasileiros


“Sabemos que perder uma exportação que agrega mais de 8 bilhões de dólares na economia brasileira consequentemente é desemprego e mais dificuldades para a classe trabalhadora”, declarou ao Portal Vermelho Marcelino da Rocha, presidente da Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal).

Por Railídia Carvalho

Nesta quinta-feira (8), os Estados Unidos confirmaram a sobretaxação do aço e alumínio brasileiros para, respectivamente, 25% (antes era 0,9%) e 10%. O presidente americano Donald Trump alegou proteção à siderurgia daquele país.

Antes da confirmação da medida pelos Estados Unidos, as seis centrais sindicais brasileiras realizaram no dia 5 de março um protesto em São Paulo em frente ao Consulado americano. Nesta quinta, o movimento Brasil Metalúrgico, que reúne confederações, federações e sindicatos do segmento, cobrou do governo de Michel Temer um posicionamento diante dos EUA e também diante de organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Efeitos no Brasil

O efeito desastroso da medida também rendeu declaração da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que definiu a posição dos EUA como "injustificada, ilegal e (que) prejudica o Brasil". Em nota, a entidade informou que serão afetados 3 bilhões de dólares em exportações brasileiras de ferro e aço. No caso do alumínio, serão afetados 144 milhões de dólares em exportações de alumínio. “Isso equivale a uma massa salarial de quase 350 milhões de reais e impostos da ordem de 200 milhões", completou a CNI.

O Brasil é o segundo maior exportador de aço para o mercado americano, atrás apenas do Canadá, país em que não incidirá a nova taxa. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, as exportações de aço somaram 15,4 milhões de toneladas em 2017, o que corresponde a US$ 8 bilhões. Do total, 33% foi destinado aos EUA. “O que exportamos é aço bruto e semiacabado. É o aço antes de ser beneficiado, antes do valor agregado. Não prejudica o trabalhador americano, ao contrário, diminui o desemprego e retoma a economia”, explicou o dirigente.

Combustível para o desemprego

O movimento sindical denuncia que os efeitos da medida americana podem inserir milhares de trabalhadores da siderurgia brasileira – número que gira em 200 mil – na estatística que soma 12,7 milhões de desempregados (PNAD/IBGE). A ausência de uma política industrial no país fragilizou o setor que no período de um ano (entre 2015 e 2016) perdeu 600 mil postos de empregos metalúrgicos, lembrou Marcelino (foto).

Ele reafirmou que as novas regras para a exportação do aço para os EUA prenunciam uma tragédia para os trabalhadores, para a indústria e para a economia brasileiras. “O Brasil é o segundo maior exportador para os Estados Unidos, o Estado de Minas Gerais é o maior produtor e exportador de aço para aquele país. Essa medida do governo Trump vai contribuir ainda mais para o desastre com o setor industrial brasileiro. A participação da indústria no PIB está em queda livre. Os números de desempregados a serem atingidos podem ser maiores do que se imagina se levar em conta a cadeia de geração do aço”, completou.

Para efeito de comparação, Marcelino citou a campanha salarial dos metalúrgicos em 2013 em Minas Gerais que reuniu as quatro federações. “Naquele ano eram mais de 200 mil metalúrgicos. Apenas metalúrgicos, sem considerar o setor extrativo e também outro setor da cadeia de geração de aço que é o setor automobilístico”.

Brasil na contramão

O presidente da Fitmetal cobrou uma posição contundente do governo a quem fez críticas pela falta de diálogo tanto com os trabalhadores quanto com os empregadores da indústria. Ele citou o documento Compromisso pelo Desenvolvimento entregue ao governo no início de 2016 com propostas de sindicalistas e empresários para a retomada do crescimento. “Até agora não houve acolhimento de propostas simples, exequíveis. Isso ao lado da falta de uma política industrial e os efeitos do golpe, em maio daquele ano, que iniciou um processo de entrega de setores estratégicos do país. O resultado atingiu e atinge os trabalhadores”.

Na opinião de Marcelino, o episódio da taxação do aço pelos Estados Unidos expõe ainda mais “a feira da pechincha” que se tornou o país após a posse de Michel Temer, que trabalha atualmente pela privatização da Eletrobrás e aos poucos reduz a presença estatal na Petrobras. “Nenhuma nação cresce se não tiver política para o mercado interno e política de preservação de setores estratégicos de sua economia”, analisou.

O movimento Brasil Metalúrgico volta a se reunir no dia 19 de março. “Vamos retomar as ações e promover o intercâmbio com metalúrgicos do cone sul já que os ataques aos trabalhadores têm sido comuns”, informou Marcelino. “Os trabalhadores brasileiros estão vivendo um período tão complexo de impactos da ausência de uma política industrial que às vezes uma medida dessa pode até passar desapercebida diante do desemprego alto, do aumento da informalidade e de um retrocesso de 100 anos nas relações de trabalho no Brasil. É um momento de muita dificuldade para o trabalhador brasileiro”.




Fonte: Portal Vermelho

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