Bispos da Igreja Católica, entre eles todos os bispos do Maranhão, em comunhão fraterna com o Papa Francisco e com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgaram uma Carta ao Povo de Deus. O documento apresenta um apelo a fim de que haja amplo diálogo entre instituições, líderes e organizações civis para convergência de ações que promovam a defesa da vida e dos mais vulneráveis.
Esse histórico documento se assenta na compreensão mais profunda sobre a missão evangelizadora que nós cristãos devemos ter: “Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que ‘evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo’ (Alegria do Evangelho, 176). Temos clareza de que ‘a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa resposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33)’ (Alegria do Evangelho, 180). Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.”
Outro trecho que destaco na Carta alerta para uma preocupação que tenho constantemente sublinhado: “A recessão que nos assombra pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.”
Em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, compartilhei do mesmo ponto de vista ao defender um Pacto Nacional pelo Emprego. Isto é, o necessário espaço de diálogo com entidades empresariais, sindicais, governadores, Congresso Nacional e o Governo Federal para enfrentamento conjunto à crise do emprego e os seus desdobramentos na vida das pessoas e nas cidades. Do mesmo modo, defendi o uso de todos os recursos financeiros e institucionais de que dispomos para enfrentar a crise multidimensional estabelecida. Crise esta, ressalte-se, que é preexistente, mas se agravou consideravelmente com a pandemia e atinge, principalmente, os mais pobres, os trabalhadores e os micro, pequenos e médios empresários.
O urgente diálogo nacional em torno dessas questões fundamentais se justifica por aquilo que os bispos destacam em sua carta pastoral. É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação à realidade brasileira, em que as pessoas estão ameaçadas pelo coronavírus, pelo desemprego, pela falta de renda e pela inércia das autoridades federais que podendo fazer, não fazem. E com exortação necessária, a Carta ao Povo de Deus revela o chamamento missionário: “Todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador”. São milhares de mortos e milhões de pessoas contaminadas pela Covid-19 no Brasil, em um cenário marcado pela incerteza de quem perdeu o emprego e seus negócios, e pela falta de perspectiva sobre o alimento na mesa de centenas de milhares de famílias. Portanto, precisamos nos unir para proteger a vida.
Como cristão que exerce uma função temporária de gestor público, comungo das preocupações e proposições do Episcopado brasileiro. Em momentos de crise, o diálogo entre os diferentes setores que formam a sociedade é um imperativo ético e estratégico. Precisamos agir sem complacência com desmandos e apatia, mas, ao contrário, verdadeiramente com olhos fitos na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária, como uma civilização do amor, assim como propõe esta Carta. Em memória de Dom Pedro Casaldáliga, que dedicou a vida à defesa dos mais pobres, do meio ambiente e dos direitos humanos, aceitemos o clamor pelo Brasil.
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