Flávio Dino:"Precisamos agir com união, coragem e respeito à vida humana" |
O cenário de crise sanitária instaurado no Brasil com a pandemia do coronavírus trouxe à tona, de forma muito transparente, a gravidade dos abusos cometidos pelo presidente da República no exercício de seu mandato. A sua ineficiência administrativa, o seu desequilíbrio emocional e sua inaptidão para o cargo não são novidades quando se fala de Bolsonaro. Porém, agora, quando um urgente plano de ação em favor da população é substituído por teses negacionistas descabidas, seguidas de ameaças ao Estado Democrático de Direito, precisamos estar ainda mais alertas. A defesa da democracia precisa ser uma bandeira empunhada por todos.
O presidente da República tenta, todos os dias, impor um padrão de funcionamento da sociedade que é oposto àquilo que a Constituição Federal preconiza. E isso é feito de forma grave porque não reside somente no âmbito retórico. A responsabilidade da Presidência deu lugar a uma agenda de caos e conflitos que nada mais é que uma tentativa de esconder a brutal incapacidade de gestão e criar condições ideais para o cenário de golpe que essa facção planeja aplicar no país, exterminando a democracia.
Tenho convicção de que o estabelecimento de um poder ditatorial ainda não se concretizou porque não permitimos que haja condições para essa execução agora. Há uma reação democrática ampla e plural forçando um recuo dos golpistas, como vimos com um importante Manifesto publicado ontem em diversos jornais, com muitas personalidades nacionais, às quais me somei com muita convicção e honra.
Estamos diante de graves sinais: desastrada troca de ministros em meio a uma gigantesca crise sanitária, incentivo e participação em aglomerações de ameaça aos demais poderes, influências indevidas no trabalho da polícia judiciária e até inacreditáveis ataques criminosos a ministros do Supremo Tribunal Federal, além da insensibilidade diante das milhares de vidas perdidas. Nós não merecemos isso. O povo brasileiro merece um bom destino.
Apesar da sensação de intangibilidade da esperança em momentos tão difíceis como este, precisamos acreditar. Fixar os olhos naquilo que nos traz sinais de vida e confiança, estando atentos à tentativa de ressignificação de atos tão cruéis como se fossem aceitáveis. Precisamos agir com união, coragem e respeito à vida humana, como princípios indissociáveis na luta pela democracia.
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