terça-feira, 22 de setembro de 2020

Deputados detonam discurso de Bolsonaro considerado "mentiroso" na Assembléia Geral da ONU


Por Christiane Peres

Quem apostou num discurso repleto de mentiras não se decepcionou. Na abertura da 75ª edição da Assembleia-Geral das Nações Unidas, realizada nesta terça-feira (22), de forma virtual, Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é “vítima de uma campanha brutal de desinformação” sobre a Amazônia e o Pantanal e chegou a culpar indígenas e caboclos pelas queimadas que devastam os biomas.

“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, disse Bolsonaro, ignorando o aumento de pelo menos 30% das queimadas na Amazônia em relação a 2019, e a maior devastação do Pantanal, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Apesar da inércia de seu governo em combater os incêndios e da redução de 58% dos recursos para este fim em sua gestão, Bolsonaro afirmou que o Brasil segue líder na preservação ambiental e que “focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”. “Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental”, disse o presidente.

Para deputados do PCdoB, Bolsonaro mente descaradamente na ONU e envergonha o país.

“Bolsonaro disse na ONU que o Brasil se destaca na questão ambiental. De fato, vem se destacando, mas negativamente, com as queimadas no Pantanal e na Amazônia, pelas quais ele acusou injustamente culpados: os caboclos e índios que, para nós, são os verdadeiros defensores da floresta. O presidente delira sobre uma tal “campanha de desinformação” que divulga o fumacê das queimadas no exterior. Na verdade, o presidente nos distancia cada vez mais de países com os quais precisamos cooperar. O fato é que Bolsonaro fugiu da responsabilidade de cuidar do meio ambiente, de salvar vidas, de manter empregos e empresas”, avalia a líder da legenda, deputada Perpétua Almeida (AC).

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), de tanto mentir, Bolsonaro passou a viver na própria fake news. “Bolsonaro utilizou o discurso na ONU para mentir descaradamente ao mundo e municiar suas milícias digitais com fake news. Culpou governadores e judiciário por seu fracasso que produziu quase 140 mil mortes. Mentiu sobre o auxílio emergencial e sobre queimadas. Bolsonaro é um mitômano. O discurso dele é puro chorume, não tem ali um mínimo de compromisso com a verdade factual. De tanto mentir, Bolsonaro passou a viver na própria fake news”, afirmou.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também apontou que o discurso do presidente foi “mentira atrás de mentira”. “Jogando a culpa de queimadas no Pantanal e Amazônia em “organizações”, sem provas. Me poupe! E ainda defendeu as práticas do agronegócio. Mentira atrás de mentira”, disse.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) destacou a hipocrisia de Bolsonaro em seu discurso. “O Brasil ardendo em chamas e Bolsonaro segue negando sua irresponsabilidade. Esse presidente é um mentiroso! Afirma que a imprensa brasileira politizou o coronavírus, colocou a culpa das queimadas nos índios e ainda garantiu tolerância zero nos crimes ambientais. Quantas mentiras! Bolsonaro envergonha o nosso país!”, apontou.

Vice-líder do PCdoB, o deputado Márcio Jerry (MA) afirmou que Bolsonaro exibiu ao mundo seu despreparo em seu discurso. “Bolsonaro na Assembleia da ONU exibe para o mundo o seu despreparo, intolerância com os defensores do meio ambiente, guerra permanente a prefeitos e governadores, enfim, sem retoques a tragédia brasileira que ele representa”, pontuou.

Pandemia

Em sua fala, Bolsonaro apresentou ainda um governo ativo no combate ao novo coronavírus. Falou que sempre alertou que o país precisaria enfrentar o vírus e o desemprego com a “mesma responsabilidade”. Esqueceu-se de dizer, no entanto, que sua gestão não foi eficaz em nenhum dos pontos, uma vez que o Brasil tem quase 140 mil mortos pela Covid-19 e 14 milhões de desempregados.

Mas afirmou que “nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior”, ao acusar a imprensa de politizar o vírus, “disseminando o pânico entre a população”.

“O país segue esfacelado sem nenhuma política ambiental, ancorado nas fake news e desrespeitando os direitos dos trabalhadores. Tivemos os piores índices na propagação do coronavírus e já ultrapassamos a marca de mais de 100 mil vidas ceifadas. #ForaBolsonaro”, afirmou o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).

A deputada Alice Portugal criticou ainda o trecho em que Bolsonaro fala que a produção rural do país não parou, abastecendo o mundo com alimentos. “Esqueceu de dizer que ele vetou auxílio emergencial a esses importantes trabalhadores”, rebateu a parlamentar.

Distante do tema deste ano da Assembleia, que é a promoção do multilateralismo, Bolsonaro lançou ainda um “apelo à comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”, e encerrou sua participação afirmando que “o Brasil é um país conservador e cristão.”

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