De acordo com o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula, mesmo com parte da população apresentando anticorpos contra a Covid-19, o resultado do estudo não indica imunidade coletiva. “Nesta fase já não se pode falar em imunidade de rebanho. Já temos conhecimento de um caso em Hong Kong de reinfecção, também soubemos de situações semelhantes na Bélgica e na Holanda. Devemos ter cuidados com esses casos de reinfecção, não quer dizer que haverá reinfecção de todos os casos, mas é possível, por isso não poderemos nos descuidar sobre as medidas de prevenção, distanciamento social, uso de máscaras”, disse o secretário.
O professor titular do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e coordenador geral do Inquérito Sorológico, Antônio Augusto Moura da Silva, destacou que a taxa de letalidade registrada no Maranhão foi mais baixa que a maioria dos estudos realizados no mundo.
“Para calcularmos a letalidade corretamente, o numerador precisa ser o número de óbitos e o denominador precisa ser o número de infecções e a gente só consegue estimar isso, com o estudo populacional de soro prevalência. Calculamos pelo número de óbitos que ocorreram até o dia 8 de agosto, último dia de coleta da pesquisa. A taxa foi de um óbito para cada mil infectados e se levarmos em conta o atraso de notificação e o sub registro essa letalidade vai ser no máximo 2 a cada mil. E continua sendo uma das mais baixas do mundo”, avaliou o coordenador geral.
Conforme o estudo, a prevalência de anticorpos para a Covid-19 no Maranhão é de 40,4%, estimando que mais de 2.877.454 de pessoas já tenham tido contato com o vírus SARS-CoV-2 no estado. A prevalência foi mais elevada nos municípios de médio porte, de 20 a 100 mil habitantes, com 47,6% e mais baixa nos municípios de pequeno porte, com menos de 20 mil habitantes, com 31%. Nos municípios da Ilha de São Luís, a prevalência foi de 38,9%, já nos demais municípios de grande porte, com mais de 100 mil habitantes, a prevalência foi de 35,2%.
O relatório também mostrou que tanto o isolamento social quanto o uso de máscaras diminuem a probabilidade de infecção. No grupo das pessoas que mantiveram o isolamento social desde o início da pandemia, apenas 34% foram contaminados, enquanto 44,3% dos que não mantinham o isolamento tiveram contato com a Covid-19.
O estudo destaca que é possível que os habitantes de municípios de médio porte tenham tido mais dificuldade em aderir às medidas de prevenção não farmacológicas quando comparados aos de grande porte e que tenham tido maior fluxo de visitantes que os de pequeno porte, o que pode ter contribuído para a maior prevalência de resultados positivos.
Chefe do Setor da Biologia Molecular do Laboratório Central do Estado (Lacen/MA) e um dos coordenadores do Inquérito Sorológico, Lídio Gonçalves, destaca o envolvimento de mais de 200 profissionais da área de saúde na realização do inquérito e a assertividade dos dados.
“A escolha do tipo da amostra e do tipo de exame realizado, dá uma grande credibilidade ao estudo, já que a sensibilidade do teste sorológico gira em torno de 90% e a especificidade acima de 99%. Isso gera um parâmetro muito importante, o quanto a probabilidade daquele indivíduo que é positivo, ser de fato positivo, estimando uma probabilidade em torno de 99% de confiança em nossos dados’, pontuou Lídio Gonçalves.
Durante o evento, o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula, anunciou a realização de uma nova fase do Inquérito Sorológico. “Daqui há cerca de 45 dias já teremos a realização de um segundo Inquérito Sorológico, desta vez com amostra ainda maior. Isso está sendo estudado entre as instituições, para continuar entendendo o comportamento e a prevalência da doença no Estado do Maranhão”, afirmou o secretário.
O resultado completo do inquérito está disponível no site da Secretaria de Estado da Saúde (SES), em www.saude.ma.gov.br.
Prevalência segundo escolaridade
Estatisticamente, não houve diferença na prevalência de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 por raça e por renda familiar. Mas, houve diferença na prevalência segundo escolaridade e para o número de moradores no domicílio. No grupo de escolaridade até o ensino fundamental, a prevalência foi de 40,9%, já entre as pessoas que cursaram até o ensino médio, a prevalência foi de 46,2% e entre os que cursaram até o ensino superior, a taxa foi de 27,5%.
As prevalências foram maiores em domicílios com maior número de pessoas, acima de 2 moradores.
Esses resultados indicaram relação inversa da prevalência dos anticorpos investigados com a escolaridade mais elevada e com menor número de moradores, sugerindo que desigualdades sociais e composição do número de moradores nos domicílios podem ter maior influência na exposição ao SARS-CoV-2.
Prevalência segundo medidas de prevenção
A prevalência de adesão às medidas não farmacológicas de proteção à exposição ao vírus foi investigada considerando a prática no início da pandemia e no último mês, na população geral e entre os indivíduos com resultado do teste positivo. Houve redução na prevalência de adesão às medidas de controle entre os dois momentos investigados.
A maior redução foi no isolamento social, 15,0%, e o uso de máscara teve redução de 5,9%. Apesar disso, o uso de máscara se manteve como a medida mais utilizada no último mês com 55,5%. O isolamento social foi a prática que apresentou a menor adesão no último mês, apenas 37,4%.
Entre os indivíduos com resultado de teste positivo, todas as prevalências das medidas não farmacológicas de prevenção à infecção pelo vírus foram mais baixas do que as estimadas para a população geral, tanto no início da epidemia quanto no último mês. Houve pouca diferença entre as prevalências, apontando para pequena mudança no comportamento após a infecção.
Prevalência segundo sintomas e comorbidades
Todos os sintomas referidos até 15 dias antes da realização da pesquisa foram significativamente mais prevalentes entre os indivíduos com teste positivo para o novo coronavírus, 26% dos indivíduos com teste positivo eram assintomáticos. Na investigação dos sintomas mais frequentemente apresentados, os mais prevalentes foram perda do olfato (49,5%), perda do paladar (47,7%), febre (45,6%), dor de cabeça (45,4%), seguidos de dor muscular (43,6%) e fadiga (41,1%). A maior parte dos indivíduos apresentou mais de três sintomas (62,2%).
Dentre as comorbidades investigadas durante o inquérito, as mais relatadas pelos indivíduos soropositivos foram hipertensão arterial (19,5%) e diabetes (7,8%).
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