domingo, 4 de agosto de 2024

Físico Olival Freire Jr. discute renascimento da ciência e tecnologia no Brasil


Por Cezar Xavier
Do Portal Vermelho

Brasília foi palco da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, um evento aguardado há 14 anos, desde a última edição realizada em 2010 durante o segundo governo de Lula. Desta vez, o cenário apresenta uma nova perspectiva com o retorno de Lula à presidência, trazendo uma abordagem renovada e estratégica para a ciência e tecnologia no Brasil.

Para discutir os impactos e as expectativas dessa conferência, o Entrelinhas Vermelhas entrevistou Olival Freire Jr., físico, historiador da ciência, diretor científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor titular de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A importância da 5ª Conferência

Segundo Freire Jr., a realização da conferência após um hiato de 14 anos representa o início de um novo ciclo político no Brasil. “A conferência é um marco importante devido à imensa mobilização da sociedade brasileira para debater como a ciência e a tecnologia podem contribuir para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do país”, afirmou. Ele destacou a participação de 1.200 pessoas na conferência final e a preparação que envolveu cerca de 100 mil pessoas em quase 200 conferências preparatórias.

Outro ponto alto da conferência foi a entrega do Plano Nacional de Inteligência Artificial, elaborado de forma cooperativa pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, que foi recebido com entusiasmo por diversos setores.

Avanços e diferenças do novo governo

Freire Jr. destacou que a inclusão da ciência e tecnologia na PEC da transição foi uma decisão política crucial de Lula, permitindo reajustes nas bolsas de estudo, recomposição do orçamento do CNPq e contratação de novas bolsas. “Nos primeiros meses do governo Lula, vimos um claro compromisso com a ciência e tecnologia, revertendo a política de desmonte do governo anterior”, explicou.

Ele também ressaltou a restauração das medalhas e condecorações a cientistas que foram revogadas pelo governo anterior, marcando um período de valorização da ciência e dos pesquisadores brasileiros.

O impacto do negacionismo científico

Freire Jr. alertou sobre os efeitos negativos do negacionismo científico, especialmente durante a pandemia de covid-19. Ele observou que o negacionismo não apenas prejudicou a resposta imediata à crise sanitária, mas também desencorajou jovens a seguir carreiras científicas. “O futuro do desenvolvimento científico no Brasil depende de termos um número expressivo de jovens talentosos atraídos pela ciência”, afirmou.

Produção científica e a fuga de cérebros

Em relação à queda na produção científica brasileira, Freire Jr. mencionou que a pandemia impactou o número de doutores formados, mas que outras causas também podem estar em jogo, incluindo o desencanto com a carreira científica.

Para combater a fuga de cérebros, o governo implementou medidas para aproveitar a diáspora científica, permitindo que pesquisadores brasileiros no exterior colaborem com instituições nacionais. “Queremos tirar vantagem da existência dessa diáspora científica, como já fazem outros países”, explicou.

Posicionamento do Brasil no cenário global

Freire Jr. destacou áreas onde o Brasil tem excelência científica, como petróleo, aeronáutica, agronomia e saúde pública. No entanto, ele ressaltou que esses avanços não são suficientes para os desafios do país. “Precisamos de estabilidade nas políticas de apoio à ciência e tecnologia e uma continuidade assegurada também a uma estabilidade financeira”, concluiu.

A 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação encerra com um sentimento de renovação e otimismo, refletindo um compromisso renovado do Brasil com a ciência e tecnologia como pilares essenciais para o desenvolvimento sustentável e soberano do país.

Assista a íntegra da entrevista. Comandada pela editora do Portal Vermelho, Guiomar Prates, com apoio de Inácio de Carvalho, o Entrelinhas Vermelhas traz ainda entrevista com o economista Marcelo Pereira Fernandes:

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