Parlamentares de partidos de centro, direita e esquerda saíram em defesa do presidente da Câmara, bem como do Parlamento
Principal alvo da nova onda de ataques de Jair Bolsonaro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara Federal, afirmou que a ofensiva bolsonatista não passa de “um velho truque da política”. Segundo Maia, é uma forma de Bolsonaro tentar desviar o foco da opinião pública, que discorda da demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciada nesta quinta-feira (16).
“A saída do Mandetta assusta 80% da população pelo menos”, afirmou o deputado. O ministro demitido defendia o isolamento social contra o coronavírus, seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Já Bolsonaro quer que a população volte ao trabalho, expondo-se ao risco em nome dos interesses econômicos.
Em entrevista à CNN Brasil, na noite de quinta, Jair Bolsonaro disse que Maia tem uma “péssima atuação” no Poder Legislativo e o acusou de conspirar contra o Brasil. Pesquisas de opinião indicam o contrário: a aprovação ao Congresso e a Maia cresce desde o ano passado, depois que a Câmara assumiu uma postura de “freio de arrumação” diante dos descalabros e da incompetência do governo Bolsonaro.
“Isso o que o senhor está fazendo não se faz com nosso Brasil. É falta de patriotismo, falta de humanismo. Péssima atuação. Essa forma de travar, quase que conspirar contra o governo federal”, afirmou Bolsonaro à CNN, num discurso atabalhoado. O presidente se referia ao indispensável socorro a estados e municípios articulado por Rodrigo Maia no Congresso.
A resposta do deputado foi dada também à CNN Brasil. Maia negou que trabalhe contra o Executivo: “Da minha parte, não tem nenhuma intenção de conflitar com o governo, de prejudicar o presidente”. Como exemplo de sua atuação, ele elencou projetos de interesse do governo aprovados na Câmara. “Nós aprovamos a renda mínima, fomos a R$ 500 [ante a proposta inicial do Executivo, de R$ 200]. O governo disse que aceitava R$ 600”, disse, citando uma proposta de alto impacto fiscal aprovada com anuência do Planalto.
Bolsonaro também insinuou que o diálogo propalado por Rodrigo Maia seria pouco republicano. Maia disse que não há nada disso e lembrou foi oposição durante todos os governos petistas. Mas nunca, diz, deixou de conversar com políticos do partido. “Nós dialogamos porque nós somos democratas. Não podemos aceitar que apenas uma visão de Brasil, que uma visão sobre a crise prevaleça”, disse.
Maia ainda cutucou diretamente Bolsonaro, que teve mandatos pífios como deputado federal. “O presidente passou 28 anos aqui e eu espero que ele tenha aprendido isso. Aqui é a Casa do diálogo”, afirmou. “Não vou de forma nenhuma responder o presidente no nível que ele quer que eu responda. Ele taca as pedras e nós tacamos as flores”, concluiu o deputado.
Apoio dos deputados
Deputados de partidos de centro, direita e esquerda também saíram em defesa do presidente da Câmara, bem como do Parlamento, após as declarações infundadas de Bolsonaro.
“Lamentamos profundamente mais um pronunciamento equivocado do presidente”, afirmou o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ). “Não aceitamos as palavras que ele dirigiu ao senhor (Maia). Nós somos testemunhas do esforço que tem feito para construir acordos na Casa e fazer com que o Poder Legislativo possa desempenhar o seu papel de contribuir para o País neste momento de grande dificuldade.”
“Quero discordar veemente das palavras do presidente Jair Bolsonaro, ao falar contra o Maia. Ele não falou contra o presidente da Câmara – ele falou contra o Congresso”, disse o deputado Paulo Guedes (PT-MG). “Não podemos aqui ceder a essas provocações do Presidente da república, embora ele merecesse ouvir algumas verdades mais duras de Maia”, afirmou Wolney Queiroz (PDT-PE).
O deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma da Previdência, também saiu em defesa do Parlamento. “Nós não queremos carinho, nós não queremos elogios, nós queremos fazer o certo. Nós entendemos que estamos fazendo o certo e precisamos que ele (Bolsonaro) compreenda isso, porque o único adversário que temos neste momento se chama coronavírus”, disse.
O líder do Novo, Paulo Ganime (RJ), pediu o fim da polarização. “Cabe à população avaliar e julgar o nosso trabalho. Não cabe ao presidente da República trazer uma polarização ainda maior, principalmente, em um momento como esse de crise quando Brasil precisa se unir”, disse. Já o líder do Podemos, Léo Moraes (RO), agregou: “O parlamento tem de ser grande, altivo e atender à população brasileira. Não a governos”.
Da Redação, com agências
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