Amir Khair e Ladislau Dowbor |
O economista Amir Khair, secretário de Finanças da gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo (1989-1992), disse hoje (25) que é falsa a tese do "cobertor curto" enfatizada nas medidas do governo interino de Michel Temer para justificar o corte de programas sociais. Ele participou do debate “Os caminhos da esquerda diante do golpe”, realizado na Universidade de São Paulo (USP).
Khair também questiona a relevância de se falar em contas primárias, no déficit de R$ 170,5 bilhões aprovado pela Câmara, que escondem os juros pagos pelo governo aos detentores de títulos da dívida pública. Ele destacou que, do ponto de vista nominal, as contas de 2015 ficaram com déficit de R$ 620 bilhões, dos quais R$ 502 bilhões foram gastos com o pagamento de juros. “Isso representa 82% do déficit." Um montante para o qual a coalizão do impeachment – mídia, Judiciário, Congresso e setores conservadores – não faz questão de olhar.
O economista também criticou a reforma da Previdência, que é pretendida pelo governo Temer, possivelmente adotando uma idade mínima para a concessão de aposentadoria. “Aí você faz uma reforma da Previdência, em vez de reduzir a taxa de juros, que é o verdadeiro câncer da economia.” O economista destacou que na prática o consumidor está pagando 150% ao ano de juros: “O preço financiado está pagando o preço à vista duas vezes e meia, é impossível a economia crescer com esse freio”.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Ladislau Dowbor analisou o que chama de “quatro motores” da economia, e que na presente crise estão travados, ou não estão com força suficiente para reverter o quadro de estagnação: exportação, demanda das famílias, atividade empresarial e investimentos do Estado.
Segundo Dowbor, além dos R$ 502 bilhões para os bancos pelo serviço da dívida, há R$ 880 bilhões pagos em juros anualmente no país, pagos por empresas e pessoas que adquirem crédito. Somando as quantias, chega-se a R$ 1,38 trilhão pago anualmente em juros pela sociedade, o que é um problema bem mais expressivo que os R$ 170 bilhões que o governo discute nas contas primárias. “É só parar de transferir esse monte de dinheiro para os bancos. É surrealista, pessoas de fora do Brasil não conseguem entender isso.”
Fonte: Rede Brasil Atual
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